Já estamos no meio do
ano. A Copa chegou e as eleições se aproximam. E, junto com elas, acumulam-se
fatos preocupantes para o emprego neste e no próximo ano. Detesto ser
pessimista por se tratar de uma profissão que sempre teve pouco futuro no
Brasil. Mas sou obrigado a olhar para o que acontece hoje a fim de visualizar o
que pode ocorrer amanhã com o emprego, a renda e o bem-estar dos brasileiros.
No acumulado, os dados
disponíveis antecipam dias difíceis. No primeiro trimestre deste ano, as vendas
no setor imobiliário despencaram mais de 50%. Os corretores me dizem que, de
repente, os negócios nesse setor pararam por completo. Isso é ruim, pois a construção
civil é fonte de muitos empregos. A diminuição das vendas é igualmente
preocupante no setor de veículos que envolve muitos empregos diretos e
indiretos. Só em março a queda foi de 15%, o que provocou a redução de 21% da
produção em abril. As empresas suspenderam turnos de trabalho, deram férias
coletivas, entraram em lay off e demitiram empregados. O quadro é grave e assim
continua. Os dados de maio indicam que as vendas recuaram 10% em comparação com
maio de 2013.
No setor do comércio, a
apreensão é idêntica. As vendas do varejo ampliado (que inclui veículos,
autopeças e materiais de construção) do mês de março baixaram quase 6% em
relação a março de 2013. Em particular, preocupa o recuo de vendas nos
supermercados, alimentos e bebidas que, em março de 2014, foram 2,3% menores do
que no mesmo mês do ano passado, assim como tecidos, vestuário e calçados, que
caíram mais de 7%. A confiança dos consumidores para os próximos meses - medida
pela Fecomércio de São Paulo, em abril de 2014 - caiu 4% e, para o Brasil,
medida pela Fundação Getúlio Vargas, caiu 3%.
Com exceção dos bons
ventos da agricultura, o clima geral é de incerteza. O índice de confiança dos
produtores brasileiros nos pequenos e médios negócios para os próximos meses
caiu 8%. A confiança dos CEOs mundiais em relação ao Brasil, medida pelo YPO
Global Pulse, recuou 35% em relação ao que foi em outubro de 2010 - quando o
País era considerado a bola da vez.
Boa parte da
desconfiança reinante reflete situações objetivas, pois o País cresce pouco, a
inflação é alta, a infraestrutura está em frangalhos, a produtividade é
baixíssima, o cipoal trabalhista só aumenta e os salários, contribuições e
impostos não param de subir.
É a partir dessas
reflexões que visualizo o quadro do mercado de trabalho no futuro próximo.
Apesar de o Brasil manter uma taxa de desemprego baixa e invejada por muitos
países, começam a surgir sinais preocupantes. O emprego industrial, que já não
vinha bem, caiu mais 2% no primeiro trimestre de 2014. A geração de emprego
continua fraca tendo sido, em março de 2014, 88% menor da ocorrida em março de
2013. Se levarmos em conta os fatos que estão por acontecer, a preocupação é
redobrada. Listo aqui o "tarifaço" dos preços públicos agendado para
2015. Adiciono a ameaça de racionamento de água e de energia. Lembro o medo que
se espalha nas cidades com depredações de prédios públicos, lojas e bancos.
Destaco o desrespeito ao direito de propriedade praticado por invasores em bens
públicos e privados nas barbas de autoridades que se mantêm indiferentes.
A conjugação desses
fatos conspira contra um bom ambiente de negócios e inibe os investimentos e a
geração de empregos de boa qualidade. Tudo indica que o modelo de consumo que
até aqui respondeu por boa parte dos empregos atuais entrou em fase terminal.
Isso pode trazer efeitos dramáticos na área social com provável elevação do
desemprego logo após as eleições e, com grande probabilidade, ao longo de 2015.
Os fatos alinhados não me levam a pessimismo quanto ao futuro do País, mas me
tiram o sono quando penso nos próximos 12 meses.
Autor do texto: José Pastore. Ele é professor de Relações
do Trabalho da FEA-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do
Trabalho da Fecomércio-SP e membro da Academia Paulista de Letras.
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