Conforme o site da ANAMT (05/05/2014), “já são mais de dois mil médicos com Título
de Especialista no Brasil emitidos pela ANAMT/AMB, o que coloca a Medicina do
Trabalho como uma das especialidades médicas mais atuantes no país.” E continua: “conforme
o Projeto Demografia Médica do Brasil (...) a Medicina do Trabalho já é a sexta
especialidade médica no Brasil, com 12.756 médicos registrados no CFM e nos
CRMs. Já está à frente de especialidades mais antigas e tradicionais, como a
Cardiologia (11.568 cardiologistas) e a Ortopedia (10.504 ortopedistas).”
Dados incontestáveis! Mas uma análise mais
criteriosa nos leva à conclusões interessantes, vejamos:
>> se temos mais de 2000 médicos com
títulos de especialista, temos também, aproximadamente, 10.756 médicos
registrados nos CRMs como “Médicos do Trabalho” sem o título de especialista;
>> se temos mais de 2000 médicos com
títulos de especialista, apenas por comparação numérica, vale registrar que só
o estado de São Paulo tem mais de 1500 médicos com prova de título em Cirurgia
Plástica (uma especialidade considerada “muito fechada”);
>> se a prova de título de especialista
começou a ser realizada por volta de 2002 (com o reconhecimento da
especialidade), desde então o número médio de novos especialistas por ano foi
de apenas, aproximadamente, 145, um dos menores números entre todas as
especialidades (incluindo, por exemplo, a “fechada” Cirurgia Plástica, que
aprova mais de 200 candidatos ao ano);
>> os 10.756 médicos registrados nos
CRMs como “Médicos do Trabalho” sem o título de especialista são em sua maioria
egressos de cursos de pós-graduação lato
sensu realizados nas décadas de 70, 80 e 90, ou seja, não são mais “tão
jovens”. Não foi por acaso que a Medicina do Trabalho, conforme o mesmo Projeto
Demografia Médica do Brasil (CFM, 2011), teve uma das maiores médias de faixa etária
entre seus profissionais. Será que todos ainda estão em atuação? Qual a
porcentagem desses 10.756 ainda estaria de fato atuando na Medicina do Trabalho?
Vale lembrar que muitos colegas desse numerário nunca tiveram a Medicina do
Trabalho como sua especialidade de base, e muitos, jamais a exerceram;
>> se considerarmos que são apenas 20
vagas de residência de Medicina do Trabalho por ano no Brasil (também um dos
menores números entre todas as especialidades), concluímos que desde 2002
apenas 280 médicos fizeram a residência em Medicina do Trabalho. Isso quer dizer
que, considerando que não tenha havido nenhuma desistência entre os residentes
(o que não é verdade) e que todos tenham registrado seus certificados nos
respectivos CRMs, menos de 2% dos especialistas em Medicina do Trabalho no
Brasil são egressos da residência médica;
>> se considerarmos que são apenas 20
vagas de residência de Medicina do Trabalho por ano no Brasil, e que esse
número (infelizmente) não tende a aumentar num futuro próximo, mesmo sendo o “padrão
ouro de formação médica”, levaremos em torno de 100 anos para formar o mesmo
número de Médicos do Trabalho com títulos de especialista que temos atualmente.
O número de “Médicos do Trabalho” (em atuação)
é mesmo suficiente para a demanda que o Brasil apresenta? Se for, continuará
sendo até quando? Vivemos um momento especial. Pelo bem da especialidade, reflitamos sem paixão.
Um forte abraço a todos.
Marcos Henrique Mendanha
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